Pele de Gato

Pele de Gato
Samba Minha Vida

PELE DE GATO RECOMENDA

- Buraco do Galo - Em Oswaldo Cruz, Roda de Samba de primeira comandada por Edinho Oliveira com as maravilhosas Pastoras , ambiente familiar cerveja em garrafa e tira-gostos saborosos,vale apena conferir, todo primeiro sábado do mês - Rua Dna Vicência

- Sambastião - Na Rua do Russel - Glória , Roda de Samba apadrinhada por Ataulpho Alves Jr. acontece aos sábados na praça Luiz de Camões (grátis) horário de 15:00h as 22:00h. Cerveja gelada,caldos e tira-gostos maravilhosos.

- Terreiro de Crioulo - Na rua do Imperador 1075 - Realengo - acontece sempre nos segundos sábados de cada mês , muito partido Alto , Jongo e Sambas de Terreiros, a roda é comandada por Paulo Henrique Mocidade.

- Samba da Ouvidor - Esquina da Rua do Mercado e em frente a Rua do Ouvidor , acontece de 15 em 15 dias aos sábados com início ás 15:00h(confira datas no blog do Samba do Ouvidor)-

Vale a Pena Ver

- Noel Poeta da Vila -Filme contando parte da vida de Noel Rosa. -(Muito Bom)

- "O Mistério do Samba" - Documentário sobre a Velha Guarda da Portela. - (Ótimo)

- Música para os Olhos - Documentário sobre a vida de Cartola. - (Bom)
- Nas batidas do Samba - Documentário sobre a evolução do Samba.- (Ótimo)

- A Elegância do Samba - Documentário sobre a vida de Walter Alfaiate. - (Bom)

"UM SENHOR DE RESPEITO" - SÉRIE PUXANDO CONVERSA

PARTIDO ALTO

CLUBE DO SAMBA

MADAME SATÃ E OS MALANDROS CARIOCAS !!!



Palavras de Madame Satã

Fui me tornando na malandragem Malandro, naquele tempo, não queria dizer exatamente o que quer dizer hoje. Malandro era quem acompanhava as serenatas e frequentava os botequins e cabarés e não corria de briga mesmo quando era contra a policia. E não entregava o outro. E respeitava o Outro.
E cada um usava a sua navalha, cuja melhor era a sueca.._ Apelido de navalha era "pastorinha”... Mas quando eu falo em respeito, não estou dizendo amizade, que isso não existia. E o respeito vinha do medo.
A malandragem tb foi surgindo nos morros e no centro durante a década de 1920... ao mesmo tempo ia surgindo também a primeira geração de sambistas do morro, que em sua maioria eram também malandros. 
Durante a década de 30, o malandro foi rei... nos anos 40, o malandro se disfarçou num discreto e respeitável terno de linho, imagem que permanece ate hoje.
Apesar de Satã jamais irei mencionar os Guaiamus ou os Nagoas , cada
malandro tinha sua área de influência, locais onde eram os "protetores" das ruas leões-de-chácara - de estabelecimentos diversos. 
Posso citar Saturnino, da Praça Onze: Gavião Branco e Gavião Preto, da
Saúde; Henrique Fin-fin, da Praça Mauá; Brancura, que protegia os lares e casas de prostíbulo do baixo meretricio; Índio do Mangue, que protegia vários bares; Tinguá; etc. 
Mas, com todo respeito os maiores foram: Edgar; Sete Camas e Meia Noite, pela valentia e maldade e Camisa Preta, foi "rei da malandragem".
Tinha tb Sete Coroas foi o mestre  na fina arte da malandragem: o jogo, a navalha, o papo, a rasteira, por Volta de 1928 (aos 28 anos) ele já era um valente muito conhecido e respeitado por seu murro de esquerda.
Saudades da época que malandro era malandro..não se acha  era..(Madame Satã)


MESTRE ATAULFO ALVES !!!!



HOJE O GRANDE MESTRE ATAULFO ALVES COMPLETARIA 104 ANOS DE VIDA, INFELIZMENTE NÃO TIVE A OPORTUNIDADE DE CONHECE-LO EM VIDA, PORÉM COMPARTILHO DA EMOÇÃO DE SER AFILHADO DE Ataulpho Alves Junior, E TER O PRAZER DE DESFRUTAR DA AMIZADE DA FAMÍLIA ALVES, COMO UMA PEQUENA HOMENAGEM SEGUE ABAIXO UMA RESUMIDA BIOGRAFIA DO MESTRE !!!!!! 

Ataulfo Alves de Souza (Miraí, 2 de maio de 1909 — Rio de Janeiro, 20 de abril de 19691 ) foi um compositor e cantor de samba brasileiro, um dos sete filhos de um violeiro, acordeonista e repentista da Zona da Mata chamado "Capitão" Severino.

Nasceu na Fazenda Cachoeira, município de Miraí, Zona da Mata de Minas Gerais. Filho de Severino de Sousa e Matilde de Jesus. O pai, que tinha o apelido de Capitão, embora nunca tivesse sido militar, tocava viola, sanfona e fazia repentes. Ficou conhecido em toda a região.

Ainda com oito anos, já gostava de improvisar com Severino, que faleceu quando ele tinha apenas 10 anos. Com a morte do pai, a família deixou a fazenda (propriedade de Alves Pereira, que pode ser o motivo do sobrenome Alves de Ataulfo), indo morar na Rua do Buraco (hoje Ataulfo Alves), 23, em Miraí, MG. Era uma família de sete irmãos: Ataulfo, Alaor, Paulinho, Tita, Maria Mercedes, Maria Antonieta e Norina.

Ainda menino, o compositor começou a trabalhar para ajudar a mãe no sustento da casa. Foi leiteiro, condutor de bois, apanhador de malas na estação, menino de recados, carregador de marmitas, marceneiro, engraxate, plantador de café, arroz e milho, e muitas outras atividades. Mesmo trabalhando duro, continuou seus estudos no grupo escolar Dr. Justino Pereira.

Deixou Miraí em 1927, com apenas 18 anos, indo para o Rio de Janeiro tentar melhores oportunidades. Partiu acompanhando o médico Afrânio Moreira de Resende, amigo de sua família, e que se transferia para a capital federal, com mulher e filhos. Ataulfo passou a trabalhar de dia no consultório do Dr. Afrânio, na Rua da Assembléia, centro do Rio, e de noite, fazia a limpeza geral da residência do médico.

Depois de algum tempo, empregou-se na Farmácia e Drogaria do Povo (de Samuel Antunes), como limpador de vidros, e onde acabou aprendendo o ofício de prático de farmácia, conquistando a simpatia e a confiança do dono. Na época, morava no bairro do Rio Comprido, onde passou a freqüentar rodas de samba.

Em entrevista, contou: "Eu organizei um conjunto, um grupo. Já tocava violão, já tinha meu cavaquinho, meu bandolinzinho, já fazia meu dó maior acertadinho, direitinho. Conforme eu manipulava as pílulas, manipulava também o samba". Aos 19 anos, casou-se com Judite. Nessa época conheceu uma jovem de nome Maria do Carmo, amiga das filhas do patrão, e que morava na Travessa do Comércio, 24. A moça vivia dizendo que um dia seria artista. O compositor achava graça. A jovem era, simplesmente, aquela que se tornaria o mito Carmen Miranda. Em 1929, chegou a trocar, por curto período, o emprego na farmácia de Samuel. Foi trabalhar na Farmácia Mello, no Catumbi, do Dr. João Bandeira de Mello. Teve, com a esposa Judite, cinco filhos: Adélia, Ataulfo Júnior, Adeilton, Matilde e Adelino (que morreu jovem).

Ao longo dos 35 anos de sua vitoriosa carreira, acumulou muitos troféus, medalhas, placas e diplomas, além dos quadros pintados por Pancetti, "Lagoa serena" e "Pois é", inspirados em seus famosos sambas. Um lenço branco foi a sua "marca registrada". Com ele, costumava "reger" o seu conjunto. Foi um dos mais bem sucedidos sambistas compositores dos anos 1940 e 1950. Sempre muito educado, gentil e refinado, vestia-se com elegância. Chegou a ser eleito um dos "10 mais elegantes" em famoso concurso promovido pelo colunista social Ibrahim Sued. "Quando fui apontado como um dos 10 mais elegantes pelo Ibrahim, eu aparecia nas fotografias com um terno de 10 anos atrás. É que, naquela época, eu não podia pagar um bom alfaiate. Mas, depois de eleito, surgiram grandes alfaiates que, interessados em ganhar publicidade, ofereciam-se para me fazer roupas de graça". Foi um dos primeiros compositores populares a editar suas próprias composições. Faleceu no Rio de Janeiro, vítima de uma úlcera no duodeno que o acompanhou por quase 20 anos.

Fonte: Dicionário Cravo Albin

MALANDRO TAMBÉM AMA !!!!!!

O poeta da Vila sofreu e cantou um grande amor, que, para ele, “tem sempre um triste fim”. O romance entre Noel Rosa e a dançarina Juraci Correia - ou apenas Ceci - foi um dos casos de amor mais lírico da história da MPB



 CECI


Numa festa de São João no bairro carioca da Lapa, em 23 de junho de 1934, Noel Rosa conheceu uma dama de cabaré que o encantou: Juraci Correia de Moraes. Ceci, como era mais conhecida, era uma adolescente de 16 anos, recém-chegada da cidade serrana de Nova Friburgo. Nessa data em que Noel era homenageado no Cabaré Apolo, Ceci conseguia seu primeiro emprego como dançarina. Começaria aí um dos casos de amor mais líricos da história da canção popular brasileira.

Até então, Noel já havia conquistado a fama com o sucesso “Com que roupa”; posto o país à venda em “Quem dá mais?”; composto emboladas com o Bando dos Tangarás; arriscado sambas anatômicos, como “Coração”, epistolares, como “Cordiais saudações”, e fonéticos, como “Picilone”. Noel declarava todo o seu amor ao “feitiço sem farofa” de Vila Isabel, envolvia-se em polêmicas com Wilson Batista sobre a malandragem e o valor do sambista, e andava pelos morros do Estácio, Salgueiro, Mangueira e Matriz na companhia de Cartola, Bide, Canuto, Ismael Silva, Heitor dos Prazeres.

Noel cantou os bêbados, os maltrapilhos, os maltratados, a boemia, a cidade, a noite, a modernidade, os acertos e os desmazelos do Brasil. Cantou de forma crítica, irreverente, satírica, bem-humorada. Debochado, zombou da tragédia alheia e também da sua própria. Afinal, era um homem comum, como todos os seus personagens. Por essa razão, suas canções eram ouvidas no cinema, no carnaval, no rádio e no teatro.  O “bacharel” da Vila não precisou de diploma de colégio para desvendar o mistério do samba. Segundo Noel, o samba “não vem do morro nem da cidade”.

Tudo isso parece ter perdido um pouco do seu brilho diante do encontro com uma jovem que se tornaria uma das mulheres mais desejadas da Lapa. O romance entre Noel e Ceci durou três anos, os últimos da vida do compositor. E rendeu várias brigas, muita confusão, algumas idas e vindas e sambas impecáveis, como “Dama do cabaré”, “O maior castigo que eu te dou”, “Quem ri melhor”, “Só pode ser você”, “Pra que mentir”, “Silêncio de um minuto”, “Último desejo”.

Suas composições, principalmente as dedicadas a Ceci, pouco se assemelham ao estilo dos sambas extrovertidos, em tom de galhofa e sátira, com que Noel cantava o cotidiano do povo carioca. Ao cantar o amor, ele fala sério. Porém, fala na língua do povo. Adota a linguagem do cotidiano como antídoto e usa tudo aquilo que era tido como prosaico, popularesco, vulgar, impróprio... Para os críticos, nada disso convinha a uma obra que tematizasse o amor, sentimento sublime, dedicado às figuras femininas quase inalcançáveis.

Noel Rosa propõe uma nova atitude diante da canção popular, da mulher e do amor. Sem prosopopeias, ele canta os sentimentos vividos e não sonhados. Suas personagens são de carne e osso, e em nada se parecem com musas encasteladas em altares longínquos. Seus sambas empregam a linguagem coloquial para cantar os diversos aspectos da vida carioca. Seu modo intimista e descontraído de cantar e de se fazer acompanhar em várias gravações de suas composições coloca sua obra em sintonia com o universo urbano da época.
Durante muito tempo, os compositores assumiram um modelo bem comportado para falar da mulher como “moças de família” e “esposas dedicadas”, consagradas em canções como “Ai que saudades da Amélia” (1942), de Ataulfo Alves e Mário Lago. Este samba, de enorme sucesso, cristalizou a imagem idealizada de que a “mulher de verdade” não faz exigências, não tem desejo próprio nem vaidade. Ela apenas cumpre de forma resignada e submissa os deveres do lar. Poeta muito soturno, Noel deixa clara a sua preferência pelas mulheres da noite, como na canção “Dama do cabaré”, composta em 1936 e dedicada a Ceci:

Foi num cabaré na Lapa
Que eu conheci você,
Fumando cigarro,
Entornando champanhe no seu soirée.
Dançamos um samba,
Trocamos um tango por uma palestra.
Só saímos de lá
Meia hora depois de descer a orquestra.
Em frente à porta um bom carro nos esperava,
Mas você se despediu e foi pra casa a pé.
No outro dia lá nos Arcos eu andava
À procura da dama do cabaré.

Por meio de suas canções de cunho amoroso, Noel Rosa lança o moralismo às favas numa época em que a figura feminina era quase sacralizada. Cantar o amor carnal, erótico, sem decoro e livre dos códigos de compostura, por uma dançarina de cabaré e sofrer por uma mulher que não vivia dentro dos padrões de conduta social era desafiar o sempre convicto lema da defesa da moral e dos bons costumes.

Em fins de 1936, o sambista da Vila andava afastado do burburinho da Lapa. Corria a notícia de que Ceci tinha um novo amor: o ator de teatro e também compositor Mário Lago (1911-2002). No dia de seu aniversário, 11 de dezembro, Noel resolveu ir ao encontro da amada. Decide, então, procurá-la para trocar algumas palavras. Quem sabe um jantar no fim da noite? Ela aceitou o convite, mas já era tarde. O silêncio entre os dois havia se tornado absoluto. Noel confessou o seu luto em uma canção destinada a homenagear um “um amor cheio de glória” que lhe pesa na memória. Na noite em que saiu para comemorar seu aniversário, compôs ironicamente, ao pé da cama da musa, seu “Último desejo”, canção que anunciava o fim do romance:

Nosso amor que eu não esqueço,
E que teve o seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete,
Sem retrato e sem bilhete,
Sem luar, sem violão.
Perto de você me calo,
Tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar.
Nunca mais quero o seu beijo,
Mas meu último desejo
Você não pode negar.
Se alguma pessoa amiga
Pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não,
Diga que você me adora,
Que você lamenta e chora
A nossa separação.
Às pessoas que eu detesto,
Diga sempre que eu não presto
Que meu lar é o botequim,
Que eu arruinei sua vida,
Que eu não mereço a comida
Que você pagou pra mim.


Com esse samba em forma de testamento, Noel se despede de Ceci. Despojado de qualquer extravagância ou sentimentalismo, ele cantou o amor de maneira simples e requintada, em que letra e melodia são elaboradas de forma cuidadosa. Sua desilusão era uma experiência do mundo real. Seus versos são cantados na primeira pessoa, mas já não havia mais nada o que fazer em nome desse amor. Não existe em Noel qualquer oposição entre vida e arte. Cronista da modernidade urbana, seus sambas estão impregnados de vida, mesmo quando o assunto é o fim do amor.

O compositor não teve tempo de ouvir a gravação lançada pela cantora Aracy de Almeida (1914-1988) em março de 1938. Ela só foi possível porque Noel, já com a saúde muito debilitada, confiou seu registro ao amigo e parceiro Vadico (1910-1962). O lançamento póstumo, poucos meses após sua morte, fez um grande sucesso na voz de Aracy de Almeida, que foi, ao lado de Marília Batista, uma das principais intérpretes de Noel Rosa. Ainda no início da carreira, a cantora já dava mostras da personalidade forte que a marcou ao longo de sua vida artística.

Na gravação de “Último desejo”, Aracy tomou a liberdade de fazer ligeiras alterações em alguns versos. Ela canta “Que meu lar é um botequim” em lugar de “Que meu lar é o botequim”. A modificação leva a crer que o narrador teria um lar, longe da boemia. A versão original, ao contrário, deixa claro que ele não teria outro lar que não fosse o próprio bar. Fato sintomático, se lembrarmos que Noel era casado com Lindaura Martins, mas confessava seu amor a Ceci em um samba reconhecidamente autobiográfico. “Último desejo” foi regravada em 1963 por Marília Batista, em uma versão que também levanta polêmica. Segundo ela, o compositor teria ensinado à cantora uma segunda parte do samba diferente da versão consagrada por Aracy.

A história do amor de Noel por Ceci foi revisitada de forma magistral por uma cantora ainda novata, recém-chegada da Bahia, em 1965: Maria Bethania. Nesse ano, ela lança o compacto “Maria Bethania canta Noel Rosa”. Fiel à dor do “filósofo do samba”, Maria Bethania acentua o tom de melancolia, dotando ainda de mais pesar a exatidão dos versos do sambista. Acompanhada somente pelo violão de Carlos Castilho, ela volta ao passado para homenagear o compositor e também Aracy de Almeida. Na década de 1950, a intérprete fez uma série de gravações do repertório do sambista, contribuindo para que Noel fosse redescoberto pelas novas gerações por meio de discos como “Canções de Noel Rosa com Aracy de Almeida”, lançado em 1955.

Considerada uma das obras-primas de Noel Rosa, “Último desejo” mereceu muitas regravações. Todas elas contribuem para que esse samba cumpra o seu papel: lembrar o sentimento dedicado pelo sambista à sua amada. Mesmo sabendo que todo “grande amor tem sempre um triste fim”.


POR : Bruno Viveiros Martins
Bruno Viveiros Martins é autor do livro Som Imaginário: a reinvenção da cidade nas canções do Clube da Esquina (Editora UFMG, 2009).

NOEL ROSA