ZÉ CATIMBA: UM GUARABIRENSE QUE BRILHA NO SAMBA CARIOSA
Por Humberto Santos (Sucursal de A União, em Guarabira)
Te “esconjuro com tanto Zé, como tem Zé lá na Paraíba”... eis um fragmento da conhecida música “Como tem Zé na Paraíba” (Manezinho Araújo/ Catulo de Paula) que em 1962 alcançou grande sucesso na voz do paraibano Jackson do Pandeiro que por sinal também era Zé (José Gomes Filho). A música fala da exagerada quantidade de “Zés” nascido na terra de Zé Lins do Rego.
São muitos os “Josés” nascidos no solo tabajarino que por suas competências individuais ganharam projeção nacional: Zé Américo, Zé Ramalho, Zé da Luz, Zé Dumont, Zé do Norte, Zé Calixto, Zé Lins, Zé Siqueira e tantos outros. Mas tivemos um outro José este nascido Guarabira no dia 11 de novembro de 1932 que tempos depois tornaria-se celebridade como compositor de sambas no Rio de Janeiro seu nome: José Inácio dos Santos conhecido nas rodas de samba pela carinhosa alcunha de Zé Catimba, epíteto adquirido nas peladas dos campos de várzeas carioca. Esse é mais um Zé que orgulha a nossa Paraíba.
A SOFRIDA CAMINHADA DO SAMBISTA DO BREJO PARA O RIO
O futuro Zé Catimba nasceu pobre e anônimo como tantos outros “Zés” da sua classe social, o seu pai José Inácio dos Santos foi um sofrido agricultor da zona rural de Guarabira e muito lutou para honradamente criar o pequeno José sempre auxiliado pela esposa também agricultora Josefa João Inácio. O pai do sambista nas horas de folga, dedilhava com perfeição sua viola de 12 cordas enfeitadas de fitas, tornara-se um campeão em desafios, fora ainda compositor de cordel, mas essa profissão, não lhe rendia o sustento, mais tarde o famoso filho compunha “Viola de fita” homenageando seu genitor.
O ano de 1942, foi decisivo na vida do Sr. José Inácio, cansado e não suportando mais as privações reuniu a pequena prole e decidiu tentar a sorte na cidade grande. Contrariando o destino, pegou carona em um caminhão carregado de vergalhão e partiu com Josefa e José rumo ao Rio de Janeiro, essa família de retirantes nordestinos após muitos dias de sofrimentos desembarcou finalmente no Largo da Batalha em Niterói começando daí para frente o saga da família Inácio na “Cidade Maravilhosa”.
O Jovem José, passando depois a morar em Bonsucesso logo adaptou-se a vida agitada do Rio, mostrando-se bastante esperto, de tudo fez para sobreviver: limpou fossa, foi ajudante de pintor, camelô, faxineiro, porteiro, tudo isso antes de se encontrar com o samba sua verdadeira vocação.
1959: NASCE A IMPERATRIZ E COM ELA SURGE ZÉ CATIMBA
No ano de 1959, surgia no Rio de Janeiro mais uma escola de samba a Imperatriz Leopoldinense que iria ter futuramente em sua ala de compositores um sambista vencedor o paraibano Zé Catimba.
O sambista Catimba mesmo não tendo diploma em nenhum grau de escolaridade, aprendeu tudo inclusive a ler na escola da vida, sua verve poética foi herdada do pai e tempos depois lapidada em contato com as rodas de sambas freqüentadas por sambistas do quilate de Cartola, Zé Keti, Nélson Cavaquinho, Elton Medeiros, Candeia, Silas de Oliveira, Dona Ivone Lara, Wilson das Neves, João Nogueira, Noca da Portela, Paulinho da Viola, depois Almir Guineto, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho e tantos outros.
Na Imperatriz, sua escola de coração de tudo participou indo de puxador de corda a sua presidência, mas foi como compositor que alcançou fama. Seu primeiro samba enredo surgiu em 1971 “Barra de ouro, Barra de Rio, Barra de Saia” feito em parceria com Niltinho Tristeza auto do samba (Tristeza, por favor vá embora...)
Em 1972, foi o ano que o compositor projetou a escola para ser conhecida no país com o estrondoso sucesso alcançado com o samba enredo “Martim Cererê”, sendo a música incluída na trilha sonora da novela “Bandeira-2” da Rede Globo escrita por Dias Gomes e que ainda incluiu Grande Otelo revivendo o papel do sambista Zé Catimba, o disco alcançou a espantosa tiragem de 700 mil cópias.
No ano de 1981, a escola sagrou-se bicampeã do carnaval carioca com o samba enredo “O teu cabelo não nega” mais uma criação do genial Catimba.
Graças a originalidade de suas 1000 composições, Catimba hoje é uma grande referência no samba carioca suas músicas já foram gravadas por inúmeros sambistas de renome Elza Soares, Agepê, Alcione, Jair Rodrigues, Leci Brandão, João Nogueira, Zeca Pagodinho, Simone são apenas alguns.
O sambista de Vila Isabel Martinho da Vila vendo em Catimba qualidades inigualáveis tornou-se o mais constante de seus parceiros criando juntos pérolas musicais do samba como: “Me faz um dengo”, Tá delícia ta gostoso, Me beija me beija, Bandeira da fé, Disrritmia, Recriando a criação. A composição “Me ama mô” da dupla (Martinho/ Catimba) foi gravada por Júlio Iglesias sem autorização o que vem rendendo uma polêmica judicial. O compositor Rildo Hora criou o projeto musical “Samba Eterno” e das dez músicas incluídas no mesmo, quatro são de Catimba o que atesta a sua qualificação de excepcional sambista.
Em 2009, prestando uma justa homenagem ao sambista paraibano, o jornalista carioca Fernando Paulino após anos de pesquisas lançou pela editora Panorama sua biografia como o título “Zé Catimba – que grande destino reservaram para você” que conta detalhes de sua rica trajetória de vida.
Quem dera, a vida fosse assim: sonhar, sorrir, cantar, sambar e nunca mais ter fim... diz um trecho de uma de suas belas canções, e, é desse jeito que Zé Catimba deixa a vida lhe levar. Após curar-se de um câncer, hoje traz sempre no rosto um sorriso constante que parece ser a receita certa prá curar melancolia. Há trinta e sete anos vivendo em Niterói, atualmente ao lado do filho Inácio Rios também sambista, freqüenta diariamente as animadas rodas de samba nos bares Candongueiro e Barroquinho onde ai divide sua alegria com os amigos.
O guarabirense Zé Catimba aos 79 anos, e com um invejável humor sempre usa a expressão: “Morro e não vejo tudo!”, esperamos sim, que antes de morrer venha rever a Paraíba e sua Guarabira, terra que tanto orgulho tem, de tê-lo como filho.
*RETIRADO DO SITE CADERNO DE MATÉRIAS DO IKEDA::Escrito por Joseilton Gomes (Ikeda)
ABAIXO UM VÍDEO COM DIOGO NOGUEIRA E ZÉ CATIMBA CANTADO "DO JEITO QUE O REI MANDOU"