RIO - Um dos idealizadores da Casa do Samba, o jornalista e escritor Sérgio Cabral, pai do governador do Rio, disse na sexta-feira estar surpreso e decepcionado com o recuo da prefeitura do Rio em ceder ao centro de memória do gênero o prédio do antigo Automóvel Club do Brasil, na Rua do Passeio.
"Faltava só acertar os detalhes", diz escritor
Ao lado do violonista e pesquisador Luís Filipe de Lima e da produtora Andréa Alves, Cabral estava na reunião de 2010 em que o prefeito Eduardo Paes sugeriu abrigar o projeto no edifício de 1860, que seria reformado com recursos públicos (algo estimado em R$ 24 milhões).
— Para mim, já era assunto fechado, decidido. Faltava só acertar os detalhes — afirmou Cabral. — Acho que a situação mudou com a entrada desse Kalil na secretaria. Ele não parece muito interessado em fazer algo no Automóvel Club.
O secretário, que se encontrou no ano passado com os responsáveis pela Casa do Samba, confirmou na sexta-feira que são remotas as chances de a prefeitura encampar a ideia.
— Estou desesperado, sonhando com um belo projeto sustentável, ou seja, que tenha um patrocinador — disse Kalil. — Não posso repassar um bem público a terceiros. O Tribunal de Contas cai em cima de mim. Há várias pessoas querendo o prédio do Automóvel Club, todos os projetos têm viés cultural.
Segundo Cabral, Lima e Andréa, Paes havia compreendido a importância de a cidade ter, até 2016, um lugar dedicado à história do samba. O ano das Olimpíadas no Rio também marca o centenário (em novembro) do registro oficial na Biblioteca Nacional do primeiro samba, "Pelo telefone".
— É um lugar para o carioca, o brasileiro, o estrangeiro ter como referência quando o assunto for samba. Em Lisboa, há o Museu do Fado. Em Buenos Aires, há vários locais dedicados ao tango. Aqui não tem — ressalta Lima.
Kalil questiona o caráter público do empreendimento, pois nele estão previstas iniciativas comerciais como um grande teatro, um café-concerto e lançamentos de livros e discos.
Prioridade é reformar outros centros culturais
Os idealizadores da casa lembram que a instituição não tem fins lucrativos (as receitas seriam investidas nela mesma), o carro-chefe é um centro de memória com acesso público e que o projeto de R$ 1 milhão, aprovado na Lei Rouanet, não prevê remuneração para os organizadores.
Eles dizem aguardar uma resposta definitiva sobre o antigo prédio do Automóvel Club para, se for o caso, buscar uma alternativa. Segundo Kalil, apesar do péssimo estado da construção, a prioridade da prefeitura é reformar equipamentos culturais que já existem, como o Teatro Carlos Gomes, o Centro Helio Oiticica e o Centro Cultural José Bonifácio (na Gamboa)
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