VILA ISABEL – BAIRRO DE NOEL
Localiza-se na chamada Grande Tijuca. É cercado pelos bairros da Tijuca, Aldeia Campista, Grajaú, Andaraí, Maracanã, Jacaré e Riachuelo, através da ligação do Túnel Noel Rosa. Possui uma área de 321,71 hectares e uma população de 81 858 (segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Censo Demográfico 2000).
O bairro surgiu do espírito empreendedor de João Batista Viana Drummond, futuro barão de Drummond, um empresário progressista. Ele adquiriu as terras da "Imperial Quinta do Macaco", de propriedade da Imperatriz D.Amélia quando, após a promulgação da Lei do Ventre Livre em (1871), os escravos da propriedade foram libertados.
Abolicionista e amigo de figuras de destaque que compartilhavam os seus ideais políticos, Drummond deu às ruas e praças do empreendimento nomes e datas alusivos à causa. A própria denominação do bairro foi uma homenagem à Princesa Isabel e a sua principal via, o Bulevar 28 de Setembro, à data em que a lei do Ventre Livre foi sancionada.
O bairro foi oficialmente fundado em 03 de janeiro de 1872, inspirado no urbanismo parisiense. Para urbanizá-lo e loteá-lo, Drummond organizou a Companhia Arquitetônica de Vila Isabel(1873), contratando o arquiteto Francisco Joaquim BéThencourt da Silva, discípulo de Grandjean de Montigny.
As terras da fazenda eram cortadas por duas antigas estradas, a do Macaco e a de Cabuçu, que se tornaram, respectivamente, o Boulevard 28 de setembro e a Rua Barão do Bom Retiro.
O sistema de transporte ,bondes a tração animal , seria provido pela Companhia Ferro-Carril de Vila Isabel, empreendimento também criado por Drummond para explorá-lo (1873). Foi inaugurado em 1875, ligando o bairro ao Centro.
O bairro tem nove prédios tombados pelo Patrimônio Histórico. No antigo Jardim Zoológico, o primeiro do Brasil, hoje denominado de Recanto da Princesa, o Barão de Drummond criou o jogo do bicho. No meio do Boulevard 28 de Setembro, encontra-se a igreja Matriz de Vila Isabel, a basílica Nossa Senhora de Lourdes. A matriz recebeu o título de "basílica menor", em 23 de maio de 1959, dado pelo Papa João XXIII.
Vila Isabel é famosa pela presença de inúmeros poetas e compositores que nasceram no bairro, ou que nele foram revelados.
O mais famoso é Noel Rosa, que nasceu no bairro em 11 de dezembro de 1910. No largo de entrada da Boulevard 28 de Setembro existe uma estátua em tamanho natural do compositor em bronze, reproduzindo um possível cenário da música Conversa de botequim.
Também podemos destacar Martinho da Vila, que adicionou o nome do bairro ao seu quando criou seu nome artístico.
O bairro sedia escola de samba Vila Isabel, fundada por "seu China" (Antônio Fernandes da Silveira), egresso do Salgueiro. De início, um simples bloco, possuía as cores vermelho e branco, logo em seguida mudadas para azul e branco, quando adotou o nome "Azul e Branco de Vila Isabel". No carnaval de 1946, o bloco decidiu que, para o ano seguinte, desfilaria como escola de samba e adotou desde o então o nome GRES Unidos de Vila Isabel.
Em 1968 a escola de samba desfilou com o enredo Quatro séculos de modas e costumes, tendo como destaque na avenida um modelo original de vestido do costureiro Paco Rabane.
A escola se consagrou definitivamente em 1988, campeã do carnaval com o enredo "Kizomba Festa da Raça", idealizado por Martinho da Vila, principal compositor da escola desde a segunda metade da década de 1960. O samba-enredo foi composto por Rodolpho de Souza, Jonas e Luiz Carlos da Vila.
Após anos sem uma quadra de ensaio fixa - ensaiando na Escola Equador, perto da esquina do Boulevard 28 de Setembro com a Rua Rocha Fragoso -, ganhou a sua quadra na principal rua do bairro, onde antes funcionava uma garagem de bondes na década de 1960, a garagem da extinta CTC e, posteriormente, um galpão do Detran.
Em 2000, a escola foi rebaixada ao Grupo de acesso A. Cinco anos depois, retornou ao grupo principal do carnaval, após ser campeã do Grupo de Acesso no ano anterior com o enredo "A Vila É Para Ti". No ano de 2006, foi a grande vencedora do carnaval homenageando a América Latina, com o enredo "Soy loco por ti America: A Vila canta a latinidade" de autoria do carnavalesco Alexandre Louzada.
Em 2008 foi inaugurada a nova quadra da Vila Isabel, a mais moderna quadra de escola de samba do Rio de Janeiro, a qual se originou de uma grande reforma da antiga quadra que custou 4 milhões de reais e que atualmente comporta até 11 000 pessoas em 4 000 metros quadrados de área construída e com um palco de 300 metros quadrados. A atual quadra possui camarotes de luxo e um fácil acesso pelo Boulevard 28 de Setembro, sendo, portanto, um espaço democrático onde frequentam ricos e famosos assim como membros da comunidade. Além dos ensaios da escola de samba, a quadra da Vila também é palco de shows de grandes artistas e bandas no projeto "Casa de Bamba". Um detalhe polêmico chama a atenção: é uma quadra tão democrática que tem três banheiros: o masculino, o feminino e o GLS.
Nos sábados de carnaval, saía o bloco do Sujo, comandado por Seu Otto: as fantasias já utilizadas em outros carnavais eram usadas no desfile deste bloco, formado na Associação Atlética Vila Isabel.
CIDADÃO DA VILA ISABEL – NOEL ROSA
Noel de Medeiros Rosa, nasceu de um parto muito difícil, que incluiu o uso de fórceps pelo médico obstetra, como medida para salvar as vidas da mãe e bebê. Além disso, nasceu com hipoplasia (desenvolvimento limitado) da mandíbula (provável Síndrome de Pierre-Robin) o que lhe marcou as feições por toda a vida e destacou sua fisionomia bastante particular.
Criado no bairro carioca de Vila Isabel, primeiro filho do comerciante Manuel Garcia de Medeiros Rosa e da professora Martha de Medeiros Rosa, Noel era de família de classe média, tendo estudado no tradicional Colégio São Bento.
Adolescente, aprendeu a tocar bandolim de ouvido e tomou gosto pela música — e pela atenção que ela lhe proporcionava. Logo, passou ao violão e cedo tornou-se figura conhecida da boemia carioca. Entrou para a Faculdade de Medicina, mas logo o projeto de estudar mostrou-se pouco atraente diante da vida de artista, em meio ao samba e noitadas regadas à cerveja. Noel foi integrante de vários grupos musicais, entre eles o Bando de Tangarás, ao lado de João de Barro(o Braguinha), Almirante, Alvinho e Henrique Brito.
Em 1929, Noel arriscou as suas primeiras composições, Minha Viola e Toada do Céu, ambas gravadas por ele mesmo. Mas foi em 1930 que o sucesso chegou, com o lançamento de Com que roupa? Um samba bem-humorado que sobreviveu décadas e hoje é um clássico do cancioneiro brasileiro. Essa música ele se inspirou quando ia sair com os amigos, a mãe não deixou e escondeu suas roupas, ele, com pressa perguntou: "Com que roupa eu vou?" Noel revelou-se um talentoso cronista do cotidiano, com uma sequência de canções que primam pelo humor e pela veia crítica.Orestes Barbosa, exímio poeta da canção, seu parceiro em Positivismo, o considerava o "rei das letras". Noel também foi protagonista de uma curiosa polêmica (Noel Rosa x Wilson Batista) travada através de canções com seu rival Wilson Batista. Os dois compositores atacaram-se mutuamente em sambas agressivos e bem-humorados, que renderam bons frutos para a música brasileira, incluindo clássicos de Noel como Feitiço da Vila e Palpite Infeliz. Entre os intérpretes que passaram a cantar seus sambas, destacam-se Mário Reis, Francisco Alves e Aracy de Almeida.
Noel teve ao mesmo tempo várias namoradas e foi amante de muitas mulheres casadas. Casou-se em 1934 com Lindaura Medeiros Rosa, mas era apaixonado mesmo por Ceci (Juraci Correia de Araújo), a prostituta do cabaré, sua amante de longa data. Era tão apaixonado por ela, que ele escreveu e fez sucesso com a música "Dama do Cabaré", inspirada em Ceci, que mesmo na vida fácil, era uma dama ao se vestir e ao se comportar com os homens, e o deixou totalmente enlouquecido pela sua beleza. Foram anos de caso com ela, eles se encontravam no cabaré a noite e passeavam juntos, bebiam, fumavam, andavam principalmente pelo bairro carioca da Lapa, onde se localizava o cabaré. Ele dava-lhe presentes, jóias, perfumes, ela o compensava com noites inesquecíveis de amor.
Noel passou os anos seguintes travando uma batalha contra a tuberculose. A vida boêmia, porém, nunca deixou de ser um atrativo irresistível para o artista, que entre viagens para cidades mais altas em função do clima mais puro, sempre voltava para o samba, à bebida e o cigarro, nas noites cariocas, cercado de muitas mulheres, a maioria, suas amantes. Mudou-se com a esposa para Belo Horizonte, lá, Lindaura engravidou, mas sofreu um aborto, e não pôde mais ter filhos, por isso Noel não foi pai. Da capital mineira, escreveu ao seu médico, Dr. Graça Melo: “Já apresento melhoras/Pois levanto muito cedo/E deitar às nove horas/Para mim é um brinquedo/A injeção me tortura/E muito medo me mete/Mas minha temperatura/Não passa de trinta e sete/Creio que fiz muito mal/Em desprezar o cigarro/Pois não há material/Para o exame de escarro". Trabalhou na Rádio Mineira e entrou em contato com compositores amigos da noite, como Rômulo Pais, recaindo sempre na boêmia. De volta ao Rio, jurou estar curado, mas faleceu em sua casa no bairro de Vila Isabel no ano de 1937, aos 26 anos, em consequência da doença que o perseguia desde sempre. Deixou Lindaura viúva e não foi pai de nenhum filho. Lindaura e dona Martha cuidaram dele até o fim.
À direita, Aracy de Almeida e à esquerda, Marília Batista (observada por Noel) – as intérpretes preferidas do Poeta da Vila.